JOÃO LEONIR DALL’ALBA, Pe.
Caxias do Sul (Rio São Marcos), 02 de fevereiro de 1938
Ana Rech, Caxias do Sul, RS, 12 de junho de 2006

Pe. João Leonir era filho de Carino Dall' Alba e de Lúcia Ballardin Dall' Alba, ambos falecidos. Conheceu os Josefinos através do mano Pe. Honorino, também falecido e entrou no seminário em 1949, em Fazenda Souza. Fez o noviciado em 1955 em Conceição da Linha Feijó. Sua profissão Perpétua foi em 1961. Realizou seu estágio em Orleans, onde foi um dos pioneiros na construção do Seminário São José. Fez os estudos filosóficos e teológicos na Itália onde também foi ordenado sacerdote em 1966. De regresso ao Brasil, foi enviado novamente a Orleans em 1967 onde ficou até 1980. 

Neste período em Orleans, além de dedicar-se à formação dos seminaristas, demonstrou grande habilidade na área do ensino, não apenas dentro do Seminário, mas dedicou suas capacidades para levar o Ensino Médio para Orleans no Colégio Tonezza Cascais no qual foi diretor por diversos anos.  

Numa sua autobiografia falando de Orleans escreve: “Em Orleans incentivei muito a cultura que muito favoreceu a transformação da cidade. Consegui fundar diversos museus entre eles, o Conde D’Eu e o Museu ao Ar Livre único no gênero na América Latina”. Foi participante na fundação da Febave (Fundação Educacional Barriga Verde), hoje entidade de ensino superior, sem dizer de outras inúmeras atividades em prol do município de Orleans. Em todas estas iniciativas soube trabalhar sem descanso. Doou-se totalmente, embora no começo poucos acreditassem em seus sonhos e em suas tarefas. Após tantos anos dedicados a formação dos seminaristas e à cultura de Orelans, esteve por alguns anos em Araranguá, onde como professor iniciou as famosas semanas culturais.

Uma novidade na vida dele aconteceu em 1987, quando se dispôs a participar num projeto missionário no Equador. Partiu para novas terras, nova língua, novos costumes na missão do Napo. Foi ali que apareceram novas qualidades no Pe. João. Não apenas escritor, não apenas artista, escultor, não apenas exímio poeta, mas agora também missionário. Missionário junto à tribos de índios apenas chegados as noções da civilização ocidental. Ali organizou comunidades igrejas, usando métodos de envolvimento das pessoas, formando lideranças. Ficou no Equador até 1999. De volta ao Brasil, colaborou em Belém do Pará e depois em Ana Rech onde veio a falecer.

Sua formação acadêmica aconteceu no Brasil com as faculdades de Filosofia e de Letras. Fez um estágio em Antropologia na Universidade Gregoriana de Roma. Com esta bagagem espiritual e científica Pe. João Leonir descreve seu grande sonho: “Apenas formado, comecei a escrever, especialmente com a idéia de ir salvando a história local de diversas comunidade e famílias; isto especialmente no sul de Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. 


Dois livros contam a história de minha família e quatro livros a história de Ana Rech minha terra natal. Publiquei alguns poemas em conjunto com outros autores. Meus poemas estão alguns em língua italiano-veneto e espanhol-quichua. Por um livro escrito em Veneto, recebi um premio na Itália. Já foram publicados dezoito livros e cinco opúsculos. Esperaria ainda publicar alguns livros sobre a imigração italiana da qual tenho boas fontes e editar dois livros, escritos faz tempo: “Pindorama nossa terra” e “Evoluindo com Deus, a evolução vista com olhar cristão”. 


Pe. João também foi escultor deixando obras dele na Itália, no Brasil e sobretudo no Equador em seus anos de missionário por lá. A maior escultura, é a estátua de Santa Edwiges, com dez metros de altura, em cimento que está em Belém do Pará na paróquia dedicada à santa e administrada pelos Josefinos de Murialdo.


Como recordamos e recordaremos Pe. João Leonir: 

Um homem de vasta cultura. Sempre interessado em saber mais. Um "curioso" de novidades históricas em todas as culturas. Além de conhecer muito bem os lugares históricos do Brasil e da Itália, não deixou de conhecer o reduto dos indígenas no Perú (Machupicho) e no México. Sempre procurou sintetizar e deixar por escrito suas descobertas históricas. Tinha um prazer especial em recolher fontes históricas, objetos de significativo valor, caminhando quilômetros e quilômetros para gravar um fato, talvez com uma pessoa pouco interessante, mas significativa para a história. 


Pesquisou milhares de documentos nos acervos históricos do Brasil da Itália e do Equador. De fácil contato com personalidades ligadas à universidades. Tinha um diálogo freqüente neste campo. Sempre em busca de mais saber e de novas verdades. 
Não admitia que o passado fosse esquecido, pois este explica o presente e prepara o futuro. Foi um homem incentivador da cultura por onde passou, estimulando outros a pesquisar a escrever a esculpir.Muitos sonhos ficarão para serem concretizados, corno o novo Museu ao Ar Livre de Ana Rech e a publicação da história da província brasileira dos josefinos de Murialdo.


Com Josefino de Murialdo vamos sempre recordá-lo como um confrade de boa companhia. Sabia brincar, ser alegre e sobretudo ser muito humilde. Apesar dos sucessos em seus empreendimentos literários e suas descobertas históricas, bem como suas realizações em monumentos, nunca se deu ares de importância, de superioridade. Aceitava as brincadeiras dos outros. Muito persistente em seus projetos, defendendo-os com ardor e tenacidade, sem desanimar...até encontrar uma solução. 


Sempre trabalhou com recursos parcos, mas não deixou de desenvolver suas idéias ainda que demorassem um tempo. Mostrou um bom espírito de adaptação por onde passou. Corno educador mostrou seus talentos e seu apego ao carisma de Murialdo. Educar bem os jovens para que pudessem ter um futuro brilhante. Sua espiritualidade era simples, mas profunda. Em Deus encontrava seu apoio e confiança, especialmente nestes últimos tempos quando esteve constantemente perseguido por diversas indisposições na saúde. Era grande sua vontade de continuar a trabalhar. Quantas vezes disse: "Bem quanto à saúde até que estou melhor. Acho que mais um pouco de tempo eu estarei pronto para alguma atividade mais exigente".


Corno apóstolo na evangelização demonstrou apego à verdade, bondade da escuta, acolhida no perdão, mansidão na misericórdia. Sua pessoa atraia as crianças, adolescentes e jovens pela simplicidade. Diz a mana dele Irmã Cecília: “O Leo (nome afetivo entre os irmãos/ãs) era um sacerdote de todos. Um homem com vasto círculo de relações que transcendiam os pequenos limites da família. É verdade que nos últimos anos já vimos um Leo desgastado em suas forças e energias; já ficava para trás aquele Leo cheio de vigor e de vida, com seu caráter empreendedor, sonhando longe, nem sempre compreendido por nós habituados a horizontes mais estritos”.


Eis um pouco do muito do Pe. João. Nós queremos agradecer a Deus porque nos enviou o Pe. João para ser nosso confrade. 
Nós queremos agradecer à família que permitiu que ficasse conosco. Nós agradecemos a ele pelo bem realizado. Certamente serão muitos os aplausos que ele recebeu, receberá porque foram realmente muitas as pessoas que ele soube aproximar de si. 
Nós nos orgulhamos de ser seus confrades, como todos os filhos de Ana Rech devem se orgulhar porque o Pe. João nasceu aqui e aqui vai ficar para ser lembrado em nossas memórias. A síntese implica em deixar de lado tantos aspectos lembrados por tantas pessoas que estiveram com ele na história da vida. 


Concluo esta breve memória com as palavras do próprio Pe. João Leonir:
“Espero ainda poder trabalhar no meu apostolado sacerdotal e educacional, passadas as minhas dificuldades atuais na saúde, conseqüência dos muitos trabalhos do passado, não exagerados, mas superiores às minhas poucas forças. São sonhos de quem agora está quase paralisado, mas que ainda espera realizar bons serviços na comunidade. Com eles não vou envelhecer. E terei passado uma vida feliz como padre, como religioso, como mestre, como construtor, como escritor, como artista, para a maior glória de Deus”


(Pe. Geraldo Boniatti – Provincial) -Caxias do Sul, junho de 2006