LUIZ BONETTO, Pe.
Conceição, Caxias do Sul - Brasil, 20 de abril de 1917
Caxias do Sul, RS - Brasil, 02 de março de 1988

Padre Luiz Bonetto, Era o primeiro dos onze filhos do Ângelo Bonetto e Virginia Betiato Bonetto. Dois deles foram sacerdotes da Congregação dos Josefinos de Murialdo, Pe. Luiz e Pe. João, ambos agora falecidos.

Entrou na Congregação dos Josefinos de Murialdo em 1937, em Ana Rech, com a idade madura de 20 anos.
Em 1941 estava entre os que deram início ao seminário ao Seminário Josefino de Fazenda Souza, e nesse mesmo ano fez ali o noviciado. Os três anos de Filosofia foram feitos n Seminário Central der São Leopoldo.

Para o magistério bastaram-lhe dois dos três anos prescritos, poupado pelos superiores certamente em vista da idade: um ano em Canela, em 1946 quando lá se abria aquela casa; e outro em Caxias do Sul, em 1947, onde o então Frater Luiz Bonetto é auxiliar do saudoso pioneiro Padre Mariano Bonato, no Abrigo de Menores São José, aberto naquele ano. 

Vemo-Io de novo em São Leopoldo em 1948-1949, onde fez dois anos de Teologia, em Ana Rech, 1950-1951 concluiu os outros dois anos. Dos anos de Seminário restaram-lhe a sólida formação pastoral jesuítica, e um grande número de amigos do clero secular e religioso, alguns deles tendo depois recebido a sagração episcopal.


Sabia representar muito bem a comunidade e o povo pronunciando inflamados discursos de saudação ou de reivindicações diante das autoridades civis em dia de visita, inaugurações e festas. Em seus papéis encontramos inúmeros discursos, palestras e conferências, pronunciados, sobretudo, no colégio e na paróquia de Ana Rech. Na estante do seu quarto eram numerosos os livros antigos de pregação e de fatos exemplares.


Fora uma espécie de farta munição eclesiástica que viria a cair em desuso após o Concílio de 1963-65, mas no Concílio também soube embarcar o Padre Luiz, como o atestam as numerosas apostilas de cursos de renovação sacerdotal, livros, apontamentos e que, a bem da verdade, não registravam senão alguns dados do primeiro dia. Depois, Padre Luiz preferia ouvir atentamente, como, aliás, fazia no Retiro Anual, ao qual foi fiel e assíduo até o último, em janeiro deste ano.


Por apenas três anos foi pároco de Ana Rech (1957-1959) onde todavia seu zelo plantou raízes fecundas: no livro de presenças colocado junto ao seu ataúde encontramos a frase de um anônimo: "Um obrigado dos ex-alunos das escolas municipais de Ana Rech", escolas que ele visitava e assistia. 


Tinha-se ordenado sacerdote em Conceição em 1951, pelas mãos de Dom José Barea, primeiro Bispo de Caxias. Para Conceição ele voltaria 25 anos depois em solene festa do jubileu de Prata. Ali em sua terra natal foi também pároco, de 1972 a 1983, atendendo simultaneamente também Desvio Rizzo. Embora residindo em Caxias do Sul e apesar dos contínuos incômodos provocados por gastrite, úlcera gástrica e próstata, ele dedicava com prazer todos os fins de semana a esse trabalho pastoral. 


Em 1983 reconheceu não poder fazer mais do que tudo o que já fazia, e a paróquia passou a outras mãos. Em 1956 é vice-diretor da Obra São José de Murialdo em Porto Alegre e em 1960 é professor e assistente no Seminário de Fazenda Sousa. O restante de anos sacerdotais foram dedicados plenamente aos menores carentes, a três abrigos de menores. 

 

Em 1952, neo-sacerdote, encontramo-Io como vice-diretor do Instituto de Menores em Pelotas. No ano seguinte, até 1955, é Diretor do Abrigo de Menores de Rio Grande. Ali conquistou a amizade de centenas de jovens carentes, que, bem colocados na vida, continuaram a dedicar-lhe reconhecimento aberto. Com eles era criativo, tendo inclusive trazido para uma temporada de férias em Conceição a todos os abrigados da instituição. 


De 1961 até o fim da vida o Padre Luiz Bonetto foi ecônomo e provedor do Abrigo de Menores São José, que no entretempo, por determinação do Ministério da Justiça, mudou de nome e se chama hoje" Centro Técnico Social" - embora não tenha abandonado nunca o seu objetivo fundamental: o atendimento a menores carentes. Padre Luiz sabia conseguir os recursos da manutenção, respigando nas repartições públicas e na caridade e boa vontade do povo e das empresas; somando a indústria e o trabalho incansável da casa, manteve em funcionamento esta obra tradicional, que ele ajudara na fundação em 1947. 


Para os menores não media esforços, andando ultimamente com sua velha Belina por todos os recantos da cidade, ora nos bancos, ora no escritório de amigos influentes, ora na feira com as funcionárias da cozinha, ou na chácara de algum agricultor amigo. Tratava-se de garantir escola, comida, recreação, ocupação e treinamento profissional a esses garotinhos de hoje para não serem delinquentes amanhã.


Quando em 1983 as forças já não lhe permitiam atender a paróquia de Conceição/ Desvio Rizzo, passou a ser um fiel e constante auxiliar na Igreja paroquial de São Leonardo Murialdo, anexa ao Centro Técnico Social. Suas missas eram muito concorridas, diariamente, cedo, às 6 da manhã; nos fins de semana atendia confissões e fazia questão de celebrar uma das missas de horário, sua homilia bem preparada e até comentada, conforme o testemunho das numerosas religiosas que afluiam dos arredores. 


Operado da catarata, sua vista assim mesmo mal conseguia, nos últimos anos, acompanhar o roteiro dominical da missa que os confrades piedosos mandavam ampliar em dobro em cópia xerox. Ao longo da semana eram contínuas as solicitações para que fizesse encomendações e sepultamentos, e não só da paróquia. Muitos casamentos e missas de formatura era ele também convidado, onde sabia ser incisivo e vibrante na homilia. O quanto era apreciado atestam-no as numerosas e lindas fotografias de ocasião, autografadas pelos casais e jovens agradecidos.


Com sua comunidade e com todos os confrades da Província e da Congregação sempre foi amigo e bonachão. Guardou muitas recordações da viagem que fez, com outros, à Itália e Lourdes, por ocasião da Beatificação do Fundador, em 1983. "Que o sorriso de bondade do nosso querido Padre Luiz Bonetto continue no céu a ajudar-nos nesta caminhada", é o que me escreveram nestes dias os confrades de uma comunidade distante.


A cada confrade que se revezava junto a seu leito sabia agradecer, com voz submissa e serena. Era-lhe grato que se fizesse oração com ele, em vários momentos do dia, ora rezando o terço ora recitando as horas litúrgicas que ele acompanhava com um leve mover de lábios; as mais das vezes as preces não haviam terminado, e um sono reconfortante o invadia por bastante tempo. Recebeu a Unção dos Enfermos com toda a lucidez de seu espírito, acompanhou as preces, e agradeceu ao pároco no fim do rito. Todo o pessoal da secção foi-lhe sempre dedicado e atencioso, e a todos sabia agradecer a cada gesto e serviço


Os seus numerosos irmãos, cunhados, parentes, visitaram-no e acompanharam-no comovidos, sabendo que iam perder em breve com toda a certeza não apenas o irmão mais velho; é que os ,amigos da família sempre viram o Padre Luiz como" uma espécie de chefe honorário do clã, um tipo de cacique consentido". Sobretudo comovente foi o momento do reencontro com o irmão Padre João Sonetto, vindo de Brasília, que não mais o abandonou, mantendo ele a maior parte do plantão. Foi a ele que deixou como legado: "Diga a meus irmãos que Ihes quero muito bem, que eles sempre foram amigos de verdade", Os irmãos por sua vez, após a morte, mandaram divulgar esta mensagem: "Padre Luiz! Tu foste para conosco um irmão maravilhoso! Estamos certos de que continuarás o mesmo na glória".


E era madrugada do dia 2 de março, uma hora e meia antes de expiar, suas palavras já quase incompreensíveis, e que haviam sido sempre lúcidas e lógicas até ali, a custo foram agora como que decifradas pelas enfermeiras e pelo Padre Aleixo Susin que lhe assistiu a morte: "- Agora apaguem o rádio!" Mas no silêncio da UTI não havia nenhum rádio ligado. E logo em seguida: "- Quem ganhou o jogo? .. " Também não houvera jogo. Recebeu a última absolvição e entrou em coma.


Obediente, como em toda a vida, Padre Luiz ouvira o apito final do juiz supremo. Tratava-se agora de recolher-se e repousar, celebrar a vitória da eterna juventude. Quem ganhou o jogo? Ele, o Padre Luiz é que ganhou o jogo. Investiu sua vida jovem de vinte anos até quase 71, toda ela para esse justo juiz do jogo, Jesus Cristo.


Morria o Padre Luiz que tanto apreciara a vida, que não queria morrer, que gostava das festas populares para onde trazia uma bandinha de amigos e, por insistência dos presentes, prestava-se a dançar uma hilariante "marca" no tablado. Com empolgação e gestos solenes sabia cantar para gáudio de todos o seu célebre sucesso" No dia do meu casório houve um festão danado ... ".


No dia do sepultamento, pela manhã, em vez das salas de aula a pequena multidão de garotos e alunos curiosos encontrou aberto o caminho para a Igreja. Com suas professoras quase encheram a igreja para a missa que o Padre Diretor celebrou com eles, ali, diante do corpo muito amarelado sim, mas sereno, do Padre Luiz Bonetto: era apenas o 3°. dia do novo ano escolar e a maioria não o vira mais desde dezembro último. Vieram também os funcionários e funcionárias da casa, com os confrades, e todo o pessoal das oficinas. 


Às 16 horas a multidão não cabia na igreja, em si não muito ampla; cerca de 40 sacerdotes entre confrades e clero secular e religioso da cidade aprestaram-se para celebrar as solenes exéquias, que os bispos Dom Paulo Moretto e Dom Benedito Zorzi fizeram questão de presidir.


Muitas religiosas, sobretudo Irmãs Murialdinas, estiveram presentes. Foi sepultado no jazigo dos Josefinos no cemitério de Ana Rech.

(Pe. Honorino Dall'Alba)