GERALDO FRANCISCO BOFF, Ir.
Caxias do Sul, RS - Brasil, 04 de outubro de 1930
Caxias do Sul, RS - Brasil, 08 de abril de 2008

Família
Filho de João Antonio Boff e de Margarida Rech Boff (em memória). Tinha 11 irmãos, seis (em memória): Venceslau Ciro, Argemiro Valdemar, Aldo Mariano, Taíde Esther, Isidro Valentin, Beno Luiz e cinco vivos: Ir. Salete (religiosa da Congregação das Irmãs Dominicanas), Dario Alécio, Nelson Afonso, Liduína (Lidu) e Maria Elsa. 

Até os 20 anos (1930 a 1953) viveu com a família que residia, próxima ao Colégio Murialdo e à Paróquia Nossa Senhora de Caravaggio em Ana Rech. Seus pais e irmãos sempre mantiveram estreita ligação com os Josefinos.

Congregação
O menino Geraldo nasceu dois anos depois da chegada dos Josefinos em Ana Rech (1928). Foi crescendo e conhecendo os religiosos na paróquia e no colégio. Estes e os alunos, com freqüência, visitavam a residência da família Boff. Aos poucos, o menino Geraldo foi se encantando com a vida dos Josefinos. 

Um dia perguntado pela vocação, respondeu: “A vocação surgiu pelo contato com os padres e irmãos, especialmente com o Ir. Angelo Argenta que eu admirava”. Foi alfabetizado pelo Ir. Guerrini. Nas séries seguintes, seu professor foi o Ir. Ricieri Argenta. No dia 19 de março de 1951 entrou na comunidade dos Josefinos do Colégio Murialdo de Ana Rech. Lá permaneceu até os primeiros meses de 1952. Depois desse ano foi para Farroupilha, na antiga comunidade dos Josefinos. 

No ano seguinte, no dia 28 de fevereiro de 1954, iniciou o Noviciado em Conceição da Linha Feijó, Caxias do Sul, RS, onde, no dia três de março de 1955, emitiu os primeiros votos. Permaneceu na comunidade do Noviciado até o final do ano.

Nos anos de 1956 a 1959 esteve em Fazenda Souza, onde continuou sua formação e ajudava na manutenção do Seminário, Pe. João Schiavo era seu orientador espiritual.

Durante o ano de 1960 foi transferido para Orleans, SC, para ajudar na construção e manutenção do Seminário São José. Dia 27 de fevereiro de 1961, na sua terra natal, emitiu os Votos Perpétuos na Congregação dos Josefinos de Murialdo.

Depois de seis anos em Orleans, em 1966 foi para Araranguá, permanecendo até 1973 a serviço do colégio e seminário. No ano de 1974 novamente foi transferido para Orleans, permanecendo até dezembro de 2006. Ao todo esteve 38 anos naquele Seminário.

Saúde
Desde pequeno o Ir. Geraldo teve problema de visão. Aos 43 anos, no ano 1973, em Porto Alegre, RS, impossibilitado para o trabalho pela visão limitada, foi um dos primeiros a se beneficiar com os avanços da medicina, fez transplante de córneas. Em 2007, renovou o transplante. No dia do seu falecimento, com o consentimento dos familiares, as córneas do Ir. Geraldo foram doadas.

De resto, gozou de boa saúde ao longo da maior parte de sua vida. Nos últimos anos, no entanto, se manifestou o diabetes, mal silencioso, que se tornou doença crônica ao longo dos anos e pouco a pouco foi minando os seus órgãos vitais. Permaneceu em Orleans, fazendo-se valer de vários medicamentos. Ao longo do ano 2006 reduziu muito sua atividade porque seu organismo mostrava-se cada vez mais fragilizado. Aceitou se transferir para Caxias do Sul para priorizar os cuidados com a saúde. 

Por alguns meses permaneceu na residência da mana Maria Elsa, em Ana Rech, sob rígidos cuidados na alimentação e medicação alternativa. Em seguida, passou a residir na comunidade de Ana Rech, sendo acompanhado de perto pelos confrades, com atendimento médico semanal. Foi submetido a uma bateria de exames médicos com redefinição da medicação.

Não obstante tudo isso, seu estado de saúde continuava regredindo. Iniciou aplicação de insulina. Já dependente, passou a receber atendimento diuturno. Foi transferido para a comunidade da Obra Social Educacional (OSE), onde uma equipe formada por enfermeiras e agentes de saúde contratados pela Província lhe prestava atendimento contínuo. 

Não sendo suficiente a medicação recebida, a equipe médica indicou três sessões semanais de hemodiálise.

No início do mês de fevereiro foi hospitalizado. Mesmo recebendo os melhores cuidados médicos, o carinho dos familiares, dos confrades, das enfermeiras, em nenhum momento sua saúde deu sinais de melhora. Até que, depois de alguns dias na UTI, veio a falecer, vítima de falência múltipla de órgãos.

Amor ao seminário e às famílias
Longe de Orleans, mesmo com toda medicação e cuidados, nada substituía ou apagava sua saudade do seminário e dos amigos que o acolheram e com eles conviveu durante 38 anos. No leito, quando se perguntava sobre o que desejava, dizia sempre que queria voltar para Orleans.

Mesmo com a saúde muito fragilizada, a equipe médica consentiu que ele retornasse para uma rápida visita ao seminário e aos amigos. Nas terras catarinenses fez muitos amigos, conheceu muitas famílias, criou laços, viu gerações crescerem. 

Era muito estimado por todos. Visitava as famílias e sabia escutar e aconselhar quando estas passavam por dificuldades. Tinha uma predileção especial pelas crianças e pelos mais pobres. Por vezes, com o caminhão do Seminário subia a Serra do Rio do Rastro e acampava com os seminaristas na propriedade de alguma família amiga em Bom Jardim ou São Joaquim; lá colhiam mel e tiravam pinhões, negociavam galinhas e porcos. 

As famílias de Orleans e região, foram sempre muito solidárias com o seminário. Nelas o Ir. Geraldo e os demais confrades encontravam apoio para manter o Seminário. Na véspera da tradicional Festa Junina do Seminário recebiam doações que serviam de brindes para a festa. Tinha um carinho especial também pelas Mães Apostólicas e os casais dinamizadores da Festa do Seminário.

Anualmente, após o retiro da Província que normalmente acontece em Fazenda Souza, visitava seus familiares em Ana Rech e região. Mesmo que por breve tempo, visitava os irmãos, as irmãs e parentes mais próximos. 

Era uma visita agradável porque sempre trazia uma surpresa. Nos últimos anos a referência foi sempre a casa da mana caçula Maria Elsa.

Amigo, irmão e pai 
Nenhum seminarista que passou pelo seminário esquece o Ir. Geraldo. Ele sabia ser exigente, mas amável. Quantas vezes jogou os mais medrosos na piscina para que “aprendessem a nadar”, dizia ele. Era o encarregado do dormitório. Vigiava qual pai amoroso. 
Também era ele quem levava os seminaristas ao médico quando doentes ou machucados. Sempre encontrava tempo para estar com os seminaristas. 
Num dos seus escritos dizia: “Quanto aos meninos (seminaristas), gosto como nunca, quando estou com eles me esqueço até de comer”. Os passeios de caminhão eram muito esperados; quase sempre o destino era a família de um dos seminaristas. Seu jeito simples e dedicado testemunhava a grandeza de um bom josefino: humilde e caridoso. 

Era irmão, amigo e pai dos seminaristas. 

O Sr. Vensel de Souza, ex-seminarista, assim se expressou quando soube da morte: “Lamento profundamente a ausência entre nós do sempre dedicado e especial amigo, Ir. Geraldo, com quem convivi bastante no Seminário em Orleans, nos anos de 1965 a 1969, e a quem era sempre gratificante reencontrar nos encontros de ex-seminaristas de que participei. Oro ao bom Deus para que o acolha em seu Reino.” 

Pe. Joacir Della Giustina foi o primeiro seminarista que se tornou sacerdote do seminário de Orleans. Dá seu depoimento:

“Conheci o Ir. Geraldo um ano antes de entrar no Seminário de Orleans. Lembro, era um passeio que os seminaristas faziam numa família de quem éramos vizinhos. Então foi ele, o motorista, que me pegou no colo e colocou no caminhão do passeio. É claro, no desejo de ser padre, o caminho do seminário passaria necessariamente por Orleans. O Ir. Geraldo foi isso mesmo: muito acolhedor, sempre brincalhão, mas muito fiel, honesto, bom religioso. Costumava visitar seguidamente minha família. Era sempre bem-vindo. Uma forte referência para nós, porque nada lhe custava estar junto dos seminaristas nos passeios, no trabalho, nos recreios, no dormitório...” 

Pe. Genuíno Roman, que conviveu muitos anos com o Ir. Geraldo na comunidade de Orleans, destaca aspectos importantes da vida do saudoso confrade: 

“À noite, sempre que possível, rezávamos juntos o terço; mesmo com dificuldade de visão, era fiel à Liturgia das Horas, à Eucaristia; foi muito devoto de Nossa Senhora e de São Leonardo Murialdo.”

A mana Maria Elsa, que freqüentemente visitava o mano em Orleans e nos seus últimos meses de vida esteve muito próxima dele, confirma as palavras do Pe. Genuíno:

 “Hospitalizado, mesmo na fase final, se esforçava para acompanhar as orações e invocava a proteção de Nossa Senhora, São José e São Leonardo Murialdo.”

Muito obrigado 
Agradecemos antes de tudo a Deus pela vida e a vocação religiosa do Ir. Geraldo. A Congregação dos Josefinos de Murialdo é agradecida ao Ir. Geraldo pela sua vida dedicada, seu testemunho fiel, pelo seu espírito brincalhão, pelo seu sentido de gratidão, pela sua fidelidade à Vida Religiosa, traduzida na oração e práticas de caridade; pelas amizades construídas, sobretudo pelo grande amor ao Seminário de Orleans para o qual dedicou 38 anos de sua vida.

Agradecemos aos confrades das comunidades de Orleans, de Ana Rech, da Obra Social Educacional e aos demais confrades e amigos que marcaram presença na vida do Ir. Geraldo, sobretudo nos seus últimos meses de vida. 

Somos agradecidos aos familiares, aos pais, irmãos e irmãs por ter nos dado o Ir. Geraldo e pela presença amiga e solidária da família junto ao Colégio Murialdo e à paróquia Nossa Senhora de Caravággio de Ana Rech. Agradecemos aos cuidadores do Ir. Geraldo, os funcionários e amigos, os profissionais da saúde que nos últimos meses se revezavam nos cuidados do Ir. Geraldo 24 horas por dia, ao dr. Dirceu Reis da Silva (nefrologista) e sua equipe.

Pedimos ao Ir. Geraldo Boff que do céu interceda junto a São Leonardo Murialdo, São José e à Nossa Senhora para que abençoe a nossa Congregação, os vocacionados, os familiares, os confrades doentes.

A vida do Ir. Geraldo evidenciou a convicção de São Leonardo Murialdo:

A amizade é o eco do divino sobre a terra, 

e o testemunho mais certo de que Deus está presente em nós com sua graça
.

(Pe. Raimundo Pauletti) - Abril de 2008