CARLOS PALUDO, Pe.
Cotiporã - RS, 24 de novembro de 1934
Caxias do Sul - RS, 23 de setembro de 2016
Sempre a serviço da vida

Dizem que há pessoas cuja existência se conhece ao se escutar o anúncio de que morreram. Assim não aconteceu com o Padre Carlos Paludo, presente na vida dos Josefinos de Murialdo desde os dez anos de idade, nascido em Cotiporã (RS), filho de Biásio Paludo e Brígida Sbardelotto.

O arco de tempo, entre o dia 24 de novembro de 1934, data do seu nascimento e 23 de setembro de 2016, dia de sua morte, foi preenchido por uma significativa existência de consagração e de missão.

FORMAÇÃO

Para ingressar no Seminário Josefino de Fazenda Souza (Caxias do Sul - RS), em agosto de 1945, Carlos pediu um sinal vindo do céu que confirmasse sua vocação.

Menino traquina subiu numa árvore e assim contou o desfecho: “perdi o equilíbrio e caí de cabeça para baixo entre duas pedras pontiagudas. Ainda tonto, olhei para cima... o primeiro pensamento foi: ‘este é o sinal'.”

Na etapa formativa que abaixo relataremos, o sacerdote que mais influenciou sua vida, entre outros foi o Pe. João Schiavo. Segundo Pe. Carlos: "O Pe. Schiavo me acolheu e me aconselhou nos primeiros anos do seminário e da vida religiosa como Orientador Espiritual, porque muito o admirava - principalmente o seu espírito de oração – e esforçava-me para seguir suas sábias, mas exigentes orientações de vida”.

Após os estudos do Ensino Fundamental e Médio, realizados em Fazenda Souza e Conceição da Linha Feijó (Caxias do Sul - RS), fez a primeira profissão religiosa no final de 1952. Em seguida, frequentou o curso de Filosofia no Seminário Maior dos Jesuítas, em São Leopoldo (RS), nos anos de 1953 e 1954, tendo-os concluído no Seminário Maior de Viamão (RS).

Na Festa do Natal de 1957, emitiu os votos perpétuos na Congregação de São José. Seguindo a etapa formativa foi para Araranguá (SC), onde fez o magistério por dois anos no Colégio Nossa Senhora Mãe dos Homens. Após, concluiu seu magistério no internato de Ana Rech. Em setembro de 1958 partiu para Viterbo - Itália para o curso de Teologia, que se estendeu até 1962. No mesmo local, no dia 18 de março de 1962 foi ordenado sacerdote.

MINISTÉRIO SACERDOTAL

Retornando ao Brasil, Pe. Carlos celebrou sua primeira missa junto à família, na comunidade de Cotiporã (RS). Antes mesmo de completar um mês de ordenação, foi enviado para os Estados Unidos, onde se formou em Ciências e Matemática. Lecionou no Estado do Novo México onde a língua oficial era o espanhol.

Retornando ao Brasil, em 1969, passou um período de readaptação à cultura brasileira no Rio de Janeiro, aproveitou também para fazer um curso de liturgia. Os anos que se sucederam, Pe. Carlos foi assumindo a responsabilidade de coordenar a ação pedagógica do Colégio Nossa Senhora Mãe dos Homens, em Araranguá, de 1970 a 1976. Em 1977 assumiu a Direção do Colégio Murialdo São José de Porto Alegre. Nestes anos graduou-se em Letras pela PUC/RS.

No ano de 1980 fez um curso de Pastoral Latino-Americana em preparação a novos campos de ação. Neste mesmo ano, assumiu a Direção do Seminário São José de Orleans (SC), até 1985. Em 1986 foi Diretor do Seminário de Fazenda Souza. Nos anos de 1987 e 1988 foi novamente Diretor da Obra Social de Porto Alegre. Em seguida, por seis anos, trabalhou no Distrito Federal.

Pe. Carlos, sempre com ardor missionário, iniciou a presença dos Josefinos de Murialdo em Ibotirama (BA), em 1995, onde atuou como pároco até o ano 2000.

Depois, foi atuar na Índia que, por motivos burocráticos, não pode permanecer por mais do que um ano naquele país.

Retornando ao Brasil, assumiu a Paróquia de São Jorge no Rio de Janeiro, como pároco. Atuou ainda na Paróquia São Paulo Apóstolo, em Brasília, nos anos de 2005 e 2006. De 2007 a 2010 atuou na Área Pastoral São Francisco do Conjunto Palmeira, uma vasta periferia de Fortaleza (CE). Em 2011 assumiu a Paróquia Nossa  Senhora de Fátima da Vila Luizão, em São Luiz (MA), até outubro de 2015.

Por estas comunidades e obras, Pe. Carlos foi deixando as marcas de um sadio inconformismo com todo o status quo e com a lentidão das mudanças. E assim, por vezes, suas atitudes  pastorais foram ditadas pela urgência e pela pouca paciência histórica.

Sua atuação em campo de pastoral paroquial pautou-se por um projeto de Igreja "em estado permanente de missão" e consequente organização em comunidade de comunidades, conforme as orientações da Igreja na América Latina. Para ele não foi somente uma concepção teórica, pois estimulou e implantou com vigor as CEVs - Comunidades Eclesiais de Vizinhança- buscando criar uma cultura missionária entre os paroquianos e seus colegas de ministério sacerdotal.

Nas pegadas de São Leonardo Murialdo, Padre Carlos viveu uma espiritualidade encarnada, deixando que a Palavra de Deus, a Eucaristia e outras vivências iluminassem e fossem força para cuidar das pessoas em sua integralidade. Neste sentido, o campo dos direitos humanos e da cidadania ocupou boa parte do cotidiano do nosso confrade. Na cidade de Ibotirama e nas periferias de Fortaleza e São Luís (MA), a vida dos mais fracos teve para ele um forte relevo. Buscou organizá-los e “cobrou” qualidade de vida como direito fundamental.

Já sentia o peso dos anos na missão de pároco de nossa Paróquia N. Sra. de Fátima da Vila Luizão, em São Luís, mas não se queixava e seguia entusiasta.

SEMPRE A SERVIÇO DA VIDA

Após os Exercícios Espirituais e a Reunião de Diretores, Ecônomos e Párocos em outubro de 2015, onde empolgado apresentou à Província um Plano de Promoção da Saúde para que todos os confrades tenham vida longa e com qualidade para servir o Reino de Deus, o cenário de sua vida e saúde sofreram forte transformação.

Neste período, foi acolhido pela comunidade do Centro Técnico Social (CTS) de Caxias do Sul.

Internado na UTI do Hospital N. Sra. da Saúde, em Caxias do Sul, por complicações pulmonares, não resistiu e veio a falecer na manhã do dia 23 de setembro de 2016.

Sua história haveria terminado, restando-lhe as Exéquias, porém, o destino do seu corpo foi ainda motivo de “surpresas” e de incredulidade. Num documento de próprio punho, assinado em cartório, deu ciência aos familiares de que seu corpo deveria ser destinado a pesquisas numa Faculdade. Inútil teimar, pois tudo concorreu para que assim fosse.

Restou-nos celebrar uma Eucaristia em sua memória, sem a presença física de seu féretro. Como a presença viva de Jesus Ressuscitado, de cujo penhor participava, ele estava lá.

Obrigado Pe. Carlos pelo seu testemunho de pobreza e desprendimento. Interceda junto a Deus por nós e pelas vocações na Família de Murialdo!

Pe. Antonio Lauri de Souza – CSJ - Provincial

 

Nascimento: Cotiporã, RS - 24 de novembro de 1934;

Profissão Perpétua: 25 de dezembro de 1957;

Ordenação Sacerdotal: 18 de março de 1962;

Observação:  Pe. Carlos celebrou seu Jubileu de Ouro Sacerdotal, em Cotiporã, RS, sua terra natal, dia 27 de maio de 2012.